Sexualidade

Vaginismo: Quando as causas são incomuns…

Olá meninas,

Há tempos queríamos escrever esse post para vocês e finalmente conseguimos (fogos de artifício!!!)… então vamos lá!

Quando falamos aqui no Blog sobre Vaginismo sem especificar a causa, normalmente estamos falando do que seria o Vaginismo Psicológico que é o tipo mais comum (+ de 90% dos casos), mas recentemente temos atendido vários casos de Vaginismo Orgânico aqui na Clínica (por pacientes que não encontraram “amparo ginecológico”) e fica evidente que existe muita falta de conhecimento sobre suas circunstâncias.

Este post é uma adaptação de um texto mais amplo e detalhado sobre as causas do Vaginismo em que estamos trabalhando, caso vocês fiquem em dúvida sobre alguma coisa, não hesitem em entrar em contato conosco.

Rigorosamente falando, podemos dividir o Vaginismo em dois tipos fundamentais de acordo com sua origem: o psicológico e o orgânicoA principal diferença entre os dois é que o primeiro tem uma causa psico-comportamental (e só para deixar bem claro, normalmente não é sexual) que posteriormente se manifesta na parte física, enquanto que o segundo tem uma causa biológica (interna ou externa) que posteriormente manifesta sintomas psicológicos similares (mas em geral menos intensos) ao Vaginismo Psicológico.

Em diversos casos de Vaginismo Orgânico, as mulheres levam muito tempo para procurar algum tipo de ajuda porque não se sentem exatamente enquadradas nos casos típicos de vaginismo descritos em vários sites (principalmente por causa das diferenças psicológicas), e é bastante comum que elas não saibam que o caso delas tem causas físicas.

Agora, o que esse assunto tem a ver diretamente com o texto anterior?

Um dos maiores problemas que quase todas as pacientes (dos dois tipos de Vaginismo) relatam é que na maioria das vezes os profissionais de ginecologia não tem paciência para examinar e muito menos aconselhar as pacientes com algum tipo de dificuldade sexual (até mesmo por falta de conhecimento sobre o assunto), sendo que na maioria dos casos elas são encaminhadas para psicólogos/sexólogos sem maiores investigações, e esses profissionais acabam ficando perdidos porque essas pacientes não apresentam um quadro típico de disfunção sexual.

Em vários dos casos orgânicos, sem um exame ginecológico mais “aprofundado”, não é possível saber qual dos dois tipos de Vaginismo a mulher possui, e isso pode levar a uma série de confusões, pois como dissemos anteriormente, apesar da impossibilidade/dificuldade de uma penetração completa, essas mulheres apresentam um quadro psicológico ligeiramente diferente daquelas que possuem um Vaginismo Psicológico (p. ex.: ansiedade muito menor, raramente apresentam “medo por antecipação“).

Algumas das causas orgânicas são de nascença (genéticas), ou podem ser adquiridas ao longo da vida da mulher devido a questões variadas (p. ex.: após radioterapia ou mesmo cirurgias ginecológicas), mas o ponto principal é que quando uma mulher tem um Vaginismo Orgânico, o diagnóstico correto e o tratamento das causas deve ser obrigatoriamente feito por uma Ginecologista e apenas posteriormente (caso seja necessário) o tratamento do Vaginismo em sí é feito por uma Fisioterapeuta, assim como pelo Psicoterapeuta.

Para aquelas que estão desanimadas com a busca por profissionais de Ginecologia que as entendam, sugerimos que procurem ou peçam referências nos grupos de apoio do Facebook (Vaginismo – buscando a cura e Grupo de Apoio a Mulheres com Vaginismo). Lá existem várias profissionais mais do que qualificadas para atendê-las com todo o cuidado e respeito que merecem.

Vale lembrar que independentemente do tipo, todo Vaginismo tem 2 componentes principais: o psicológico e o físico. Como já falamos em outros textos, o tratamento de um desses componentes não necessariamente resolve o problema como um todo, muitas vezes é necessário que a mulher continue com o tratamento psicoterapêutico mesmo após ter recebido alta fisioterapêutica e/ou ginecológica.

Neste post aproveitamos para listar algumas das causas mais comuns de Vaginismo Orgânico. É importante salientar que as condições biológicas raramente causam o surgimento de Vaginismo. No entanto, as anomalias anatômicas congênitas normalmente exibirão algum grau de disfunção sexual.

 1 – Causas Biológicas – Podem surgir a qualquer momento da vida da mulher. O tratamento em geral é realizado principalmente com medicamentos (e em alguns casos pequenas cirurgias).

a – Vulvodínia ou Vestibulite Vulvar: é uma disfunção sexual caracterizada por dor crônica e/ou ardência na área da vulva com causa orgânica desconhecida (idiopática). NÃO é causada por uma patologia visível (como infecção, deformidade, ferimento ou tumor), geralmente envolve dificuldades emocionais ou algum transtorno orgânico não identificado;

b – Doença Inflamatória Pélvica: é uma síndrome clínica que ocorre quando a gonorreia e a infecção por clamídia não são tratadas, atingindo os órgãos sexuais internos da mulher, como útero, trompas e ovários, causando as inflamações;

c – Abscesso de Bartholin: ocorre quando o poro das glândulas de Bartholin (localizadas nas laterais da abertura da vagina) está obstruído (por cisto) ou infeccionado;

d – Infecções vaginais por fungos: normalmente causada pela levedura Candida albicans, é bastante comum, mas pode se tornar um grande problema se recorrente. Causas comuns para se desenvolver são o uso intenso de antibióticos, gravidez, diabetes não controlada, problemas do sistema imunológico, duchas vaginais frequentes e lubrificação inadequada;

2 – Causas Congênitas – São condições “genéticas” que acompanham a mulher desde o nascimento. Nos casos de anomalias do Hímen, o tratamento é realizado com cirurgias mínimas. Para as anomalias anatômicas congênitas, são necessários procedimentos cirúrgicos mais complexos dependendo de cada caso.

a – Anomalias do hímen: o Hímen é uma membrana fina (em geral) que fica entorno da entrada da vagina, normalmente em formato de meia-lua, permitindo a saída do fluxo menstrual. Existem algumas variações de formato que podem causar desconforto na relação sexual e até mesmo dificultar ou impedir o fluxo menstrual de sair.

a1- Hímen cribiforme: cobre praticamente toda a entrada da vagina, mas possui vários micro orifícios que permitem a saída da menstruação. Pode impedir que as mulheres insiram um absorvente interno, e caso consigam, pode ser que não seja possível retirá-lo quando estiver “inchado” (com sangue menstrual);

a2- Hímen imperfurado: é bastante raro e, por não contar com orifícios, precisa ser rompido através de uma cirurgia que abrirá passagem para a menstruação e para as relações sexuais;

a3- Hímen septado: é mais resistente, e possui uma pele no meio do orifício. Apesar de não provocar dor, pode causar incômodo na relação sexual, e mesmo não impedindo a saída do fluxo menstrual, pode atrapalhar a inserção ou remoção de absorventes internos;

Hímen complacente: Chamamos de hímen complacente qualquer tipo de hímen (incluindo o normal) que não se rompe nas primeiras relações sexuais.  Em geral pode ser mais elástico, mais “duro” ou mais “grosso”.

Na maioria dos casos a ginecologista pode facilmente remover o Hímen com um bisturi.

 

b – Anomalias anatômicas congênitas: são geradas no desenvolvimento embrionário da mulher. Apesar de existirem vários tipos, apenas alguns podem eventualmente impedir a penetração e/ou gravidez;

b1- Anomalias devido à falta de absorção dos septos uterino e vaginal, parcial ou totalmente:

Septo Vaginal Transverso: é uma falha da canalização vaginal, que pode variar em espessura e localizar-se em qualquer nível da vagina, sendo mais comum na porção superior, próximo ao colo uterino. Os sintomas clássicos são a ausência de menstruação (amenorréia), dor cíclica na parte inferior do abdome e aumento gradativo de tumores em baixo ventre, em decorrência do acúmulo de sangue menstrual;

Septo Vaginal Longitudinal: apesar de permitir um fluxo menstrual normal, impede a penetração ou promove intensa dor durante o ato sexual.

b2- Anomalias causadas por problemas de desenvolvimento dos condutos de Müller: aplasia congênita do útero e vagina (Síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser). O mal ocorre em uma em cada 5000 a 7000 mulheres nascidas e suas causas não são claramente conhecidas. Em geral é uma anomalia só descoberta na adolescência, no período da menarca ou da primeira relação sexual. Pode ou não haver um mínimo de profundidade vaginal (às vezes até 3,5 cm), assim como órgãos reprodutores internos (útero e ovários);

b3- Síndrome de Morris: Síndrome genética de insensibilidade aos andrógenos, onde a genitália externa e interna pode ser normal ou ambígua (cariótipo 46 XY). Ocorre por deficiência na produção de andrógenos, defeito de receptor ou ausência do fator antimülleriano. As mulheres com essa síndrome em geral apresentam vagina curta em fundo cego (terço inferior) e ausência de útero;

Apesar de muitas mulheres descobrirem que tem algumas dessas condições por ter dificuldade/impossibilidade de ter relações sexuais, o inverso também pode ocorrer. As mulheres que passaram por alguns dos procedimentos/cirurgias reconstrutivas em decorrência de uma série de condições que citamos podem apresentar alguma disfunção sexual e para elas gostaríamos de deixar bem claro que a Fisioterapia Uroginecológica/Pélvica pode ajudar (e muito!) a melhorar a sua qualidade de vida sexual e consequentemente a sua auto-estima.

Acho que por hoje é só. Se você acredita que possa ter alguma dessas condições, não deixe de consultar um ginecologista e pedir a realização de exames mais “aprofundados”, ok? E se os sintomas do Vaginismo/Dispareunia persistirem, a Fisioterapia Pélvica/Uroginecológica está aqui para ajudar!

Caso tenham alguma dúvida, mandem-nos mensagens aqui nos comentário ou por e-mail.

bjs 😉

 

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4 comentários em “Vaginismo: Quando as causas são incomuns…

  1. Olá.
    Depois de vários anos casada, apenas em março tive coragem para ir ao médico e contar o meu problema.
    Contei a eles que não conseguia ter penetração e ao me examinarem, detectaram de primeira uma anomalia genital.
    O clitóris não é visível e não possuo os pequenos lábios.

    Eles tentaram fazer exame de toque, mas não conseguiram porque não tem como penetrar nada.
    Me encaminharam para uma ultra abdominal já que não é possível a Transvaginal que irei fazer começo desse mês, e depois vão me encaminhar para a ginecologista.. a minha médica, disse que é muito provável a correção com cirurgia.
    Estou confiante

    Curtido por 1 pessoa

    1. Olá Anônima,

      Fico feliz em saber que após tanto tempo você conseguiu procurar um profissional, e aí foram detectadas algumas alterações anatômicas.
      É necessário sempre esclarecer que normalmente essas alterações podem ser corrigidas por cirurgia sim!

      Espero que tenha dado tudo certo nesse processo!

      bjs

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